Encerradas as eleições presidenciais deste ano, sai vitorioso o projeto encabeçado pelo Partido dos Trabalhadores e representado na candidatura Dilma Vana Rousseff. Sua conquista indica obviamente, como já vinha sendo demonstrado nas pesquisas de satisfação, a aprovação do governo do presidente Lula.
A vitória foi incontestável, tendo alcançado, a candidata governista, 12 milhões de votos a mais que seu adversário. Diante deste quadro, é comovente o clima de euforia em torno da eleição da primeira mulher à presidência da república de nosso país. Só por este motivo, o dia 31/10/2010 já está registrado em nossos livros de história. Mais além, no entanto, vai a forte consolidação de nossa ainda infante democracia, que irá assistir em primeiro de janeiro à segunda sucessão presidencial consecutiva envolvendo dois líderes eleitos diretamente pelo voto popular, fato quase inédito no Brasil. Lula que sucedeu FHC, agora transmite a presidência a Dilma; os três, presidentes eleitos de forma direta. Antes deles, a única vez que isto ocorreu no Brasil, foi nas sucessões entre Prudente de Morais - Campos Salles - Rodrigues Alves, no final do século XIX.
Em nome da euforia, no entanto, não se deve omitir o alto nível de despolitização que tomou conta desta campanha presidencial. Os principais temas discutidos, especialmente no segundo turno, passaram longe das necessidades mais básicas de nosso povo. Temas como aborto, supostas agressões e a fé dos candidatos não deveriam ter sido utilizados como foram. Que este mal exemplo tenha tido sua vida encerrada neste ciclo eleitoral, e que doravante as eleições tratem de temas realmente relevantes.
Em segundo lugar, outra mancha triste neste processo ficou por conta das análises altamente preconceituosas e fortemente carentes de racionalidade feitas ao calor dos resultados eleitorais. Encampadas abertamente por setores fascistas de nossa sociedade "sulista", estas análises também permeiam alguns discursos menos eufóricos, mas não menos preconceituosos de setores da imprensa, da academia e de eleitores comuns em suas redes sociais. Tais análises buscam encontrar os motivos do êxito da candidata governista numa divisão maniqueísta entre "burros" e civilizados que geograficamente se sobrepõe à divisão Norte-Nordeste
versus Sul-São Paulo no Brasil. Os "burros", pobres e vendidos do Nordeste teriam eleito Dilma, contra a vontade da sociedade civilizada do Sul e de São Paulo. Minas Gerais e Rio de Janeiro, foram estrategicamente "rebaixados" à categoria de nordestinos.
Não bastasse o baixo grau de senso democrático destas análises, elas pecam também por outros fatores. Denotar como burro, um eleitor que, ao perceber sua vida melhorar relaciona tal fato a algumas ações e programas políticos de seus governantes é subjulgar o papel da política em nossa vida. Burro deveria ser chamado aquele incapaz de fazer tal relação. Aquele que ao ser contratado em um novo emprego ou ter ampliado seus rendimentos visualiza nestes fatos apenas consequências de seus méritos. Não consegue entender que se a economia estivesse mal e o desemprego em alta, por exemplo, aquela mesma empresa poderia estar falida e sua situação ser completamente diferente. Neste caso, seus méritos de nada valeriam. Burrice é não conseguir entender que o homem é um animal político e social e que indivíduos independentes e isolados só existem na abstração acadêmica. Perceber que a melhoria em sua vida tem origem na política é sinal de inteligência e não de burrice. Assim, votar na continuidade de um modelo que, julga-se, deu certo é sinal de maturidade política. Com maturidade política, não se vota em pessoas, mas sim em modelos e em projetos. Dilma é desconhecida, se expressa mal, não é carismática, nunca disputou uma eleição, mas representa um modelo que a maioria da população considera exitoso e, portanto merece ser continuado. Esta é uma análise inteligente e madura!
Por fim, e ainda no mesmo tema o mapa político construído por estes analistas apressados é falho e simplório. Dilma teve sim uma vitória consagradora nas regiões Norte e Nordeste, mas também venceu na região Sudeste, que é composta, sim, por Minas Gerais e Rio de Janeiro. Dilma teve nada menos que 10 milhões de votos em São Paulo (46%), e 7,2 milhões de votos na Região Sul do país, mais de 45%. Ou seja, praticamente a metade da população destes quatro estados votaram na candidata governista. Tal fato faz com que, mesmo que fossem excluídos os votos de Norte e Nordeste, Dilma seria eleita a presidenta deste "frio" e infeliz país do Centro-Sul. Para a sorte de todos nós, Dilma é a presidenta de todos os brasileiros e, tudo indica, manterá em marcha o aprovado modo de governar do presidente Lula, que dentre outras coisas levou a ascensão social mais de 58 milhões de pessoas, retomou os investimentos em infraestrutura, ressuscitou a indústria naval, retirou o país da crise em menos de um ano, trouxe luz e crédito para os pequenos agricultores e encaminhou a economia nacional para um crescimento de mais de 6% no ano vigente.
O país deve continuar neste caminho por, no mínimo, mais quatro anos, pois assim decidiram os 70% de "burros" do Nordeste e os 45% de "burros" do Sul. Os 55% de "sumo-inteligências sulinas" continuarão ganhando, e muito, com a decisão dos "burros", mas nada mudará sua opinião de que seus lucros derivam apenas de seus méritos individuais.
Deixe que pensem assim, pois enquanto eles vão urrando, nós seguimos dirigindo esta carroça por eles puxada.